A Fascinante História da Palavra ABRACADABRA

01/Fev/2025 - 04:10 - 3 min leitura

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Muito antes de ser associada a truques de mágica e coelhos que saem de cartolas, a palavra "abracadabra" carregava um significado profundo e era utilizada em rituais e práticas curativas. Sua origem é desconhecida, mesmo que aponte para o Oriente.

O Primeiro Registro

O primeiro registro escrito remonta ao século III d.C., quando o médico romano Quinto Sereno Sammonico, na sua obra "Liber Medicinalis" convidava os pacientes a usar um amuleto contendo essa palavra, escrita em forma de triângulo invertido com a intenção de diminuir a intensidade da febre mortal que os gregos chamavam de "hemitritaion". O médico se referia à doença conhecida hoje como malária, que devastou a Roma Antiga. Para curá-la, ele recomendava o seguinte:

"Escreva em uma folha [de papiro] a palavra ABRACADABRA, repita-a omitindo a última letra, de forma que faltem cada vez mais letras individuais em cada linha [...] até que fique uma única letra como o vértice de um cone. Lembre-se de fixá-la ao pescoço com um fio de linho."

Acreditava-se que a doença se dissiparia gradualmente, à medida que a palavra "abracadabra" ia encurtando, como se a própria enfermidade fosse "espelhada" e dissipada. Paralelamente, Samônico propunha remédios mais exóticos, como ungir o corpo com gordura de leão ou usar peles de gato adornadas, reforçando a crença em curas mágicas e protetoras.

Transcedendo as Barreiras do Tempo

A palavra "abracadabra" transcendeu as barreiras do tempo e deixou marcas em diversas culturas. Inscrições em pedras sagradas, como as de Abraxas, que os membros da seita gnóstica do século 2º fundada por Basílides de Alexandria, usavam como talismãs, revelam o uso da palavra em rituais místicos. Nesses contexto, "abracadabra" era invocada como um mantra para atrair proteção divina e afastar o mal.

A influência da palavra se estende por diversos períodos históricos e culturas. Em um pequeno códice italiano do século XVI, intitulado "Árvore do Conhecimento", ela aparece como parte de um encantamento para curar febres.

A repetição gradual das sílabas, como em "Av avr avra avrak avraka avrakal avrakala avrakal avraka avrak avra avr av", revela uma estrutura similar àquela utilizada em outros contextos para invocar a palavra mágica.

Alcançando o Século XVIII

A crença no poder de cura da palavra "abracadabra" se espalhou por diversos lugares, incluindo a Inglaterra do século XVIII.

Em sua obra "Um Diário do Ano da Peste", Daniel Defoe, também autor do romance "Robson Crusoé", descreve a crença generalizada em superstições durante a epidemia de peste bubônica. Entre essas práticas, destaca-se o uso de amuletos com a palavra "abracadabra" inscrita em forma de triângulo invertido, revelando a busca por proteção contra o que era visto como uma possessão demoníaca.

Apesar de seguirem à risca instruções antigas, usando os talismãs por nove dias e descartando-os em rios antes do amanhecer, atirando-os sobre o ombro esquerdo em um riacho que fluísse de oeste para leste, as pessoas não conseguiam se livrar da peste.

"Quantos pobres foram depois levados em carros funerários e atirados em fossas comuns com esses pingentes infernais pendurados no pescoço", escreveu Defoe em seu livro.

Metamorfose Semântica

A partir do Século XIX, a palavra veio perdendo seu suposto poder de cura e experimentou uma metamorfose semântica, perdendo sua associação com práticas curativas e sendo apropriada pelo universo da magia, transformando-se no encantatório infantil que conhecemos hoje.

Mágicos e ilusionistas a adotaram como um encantamento padrão, marcando o início de sua associação com truques e ilusões.

Um Legado Duradouro

A palavra "abracadabra" percorreu um longo caminho desde suas origens como um remédio para a febre até se tornar um dos encantamentos mais reconhecidos do mundo. Sua história revela a complexidade das crenças humanas e a busca por proteção, cura e significado ao longo dos séculos.

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